APOSTOLADO DA TRADIÇÃO CATÓLICA

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domingo, 2 de agosto de 2015

Uma Analice nas profundezas,de nossa alma é o que requer, nestas poucas entrelinhas.

Nós sabemos, nas profundezas de nossa alma, que nosso eu está

sempre ameaçado de uma disjunção, de um mal-estar, de uma inimizade
interna, semente e modelo de todas as inimizades exteriores. O
mais profundo de nossos instintos é o da unidade pessoal reforçado
e aguçado pelo sentimento da unicidade do eu. A vida nos solicita,
nos desafia, e em cada uma de suas arestas nos fere e nos quer
dilacerar, e os outros nos chamam, nos pedem, nos comem. Aprendemos
com a vida e com os outros, se alguma coisa aprendemos, a
lição paradoxal, a lição quase absurda das leis do amor. Cabem em
duas palavras: integridade difusiva. Só é difusivo, capaz de plena
vida de conhecimento e amor, só é capaz de entrega, dom de si
mesmo, difusão de seu ser e de seus dons, quem em si mesmo e
consigo mesmo estiver bem integrado. Em outro lugar  já vimos
que nosso relacionamento com os outros é homólogo do relacionamento
que temos em nosso próprio eu: amamos e desamamos o próximo
conforme nos amamos e desamamos a nós mesmos.  do supremo
mandamento: "Amar a Deus, e ao próximo como a ti mesmo" que
Santo Tomás (IIa IIae, q.26, a.4), tira a ordem da caridade, e que
tiramos nós a lei de sua difusão em conformidade com sua integração.
Mas a perfeita integração que capacita a alma para a perfeita
difusão de amor só se obtém se nosso próprio eu procura em
Deus, e não no seu eu-exterior, a fonte de todo o verdadeiro amor.
O amor-próprio, ou egoísmo, cicatriz do pecado original, cisão do
eu, está na raiz de todos os descomedimentos humanos. De todos os
pecados. Nosso tempo, por causa de sua atmosfera civilizacional, é
especialmente marcado por uma terrível abundância de eus em avançado
processo de desintegração. E as energias liberadas por essas
desintegrações atômicas enchem de letal egoísmo, de essencial inimizade,
a atmosfera de nossa civilização. O mundo morre de desamor.
E as afilantropias que inventa são a mais cruel forma desse desamor.
Ora, está em nossas mãos, nesta, naquela, na direita, na esquerda,
duas, duais, diversas, iguais e inconciliáveis no espaço, simétricas
—• está em nossas mãos a figura exterior mais eloquente de
nosso drama interior. Separadas, alheias, diversas, duas, duais, devem
complementar-se diligentemente para a obra comum: vede o artífice
como sabe bem explorar e conjugar o bom dualismo quando a esquerda
segura a peça enquanto a direita busca o instrumento; vede
o pianista como distribui as partes da mesma música nas duas mãos
espalhadas, ora afastadas como se se desconhecessem, ora aproximadas
como se quisessem na obra comum encontrar a tão desejada
integração. Vede como se afastam ou se juntam nos sinais da amizade.
Mas é no rebatimento que realiza numa espécie de quarta
dimensão que nossas pobres mãos divididas, duas, duais, conseguem
docemente realizar o gesto perfeito de súplica e de adoração. Mas
devem afastar-se, abrir-se, ignorar-se, esquecer-se cada uma de si
mesma, na hora de dar: "nesciat sinistra tua quid faciat dextera
tua." (Mat. VI, 3)
E o símbolo do jogo E—D? O símbolo escondido na persistente
e difundida metáfora, que tumultua um século, está agora desvendado.
Denunciemo-lo. O sucesso da metáfora e a violência de sua
aplicação e sobretudo a sua capacidade de confundir, mentir e falsear
se explicam pelo humanismo que Maritain em Humanisme Integral
chamou de humanismo antropocêntrico, e nós (na mesma linha de
ideias) preferimos chamar de humanismo antropoexcêntrico. (15) Ou
se explicam por todo um processo civilizacional aberrantemente afastado
de Deus e gerador de inimizades. Os homens quiseram-se bastar,
pretenderam desvincular-se de todas as "alienações", e nesse ato de
suprema soberba produziram um humanismo que só tem consciência
de sua interna inimizade, e fabricaram um mundo novo que rapidamente
se aproxima do modelo dos institutos para alienados.

Gustavo Corção.

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